BLOG DE MARCELO BARROS

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É seguro utilizar amplificadores na impedância mais baixa?

A resposta a esta importante questão está condicionada ao usuário conhecer muito bem as caixas acústicas que pretende utilizar. Aqui abordaremos o assunto passo a passo e ao final deste artigo o leitor estará seguro para respondê-la.

 

1- Usar o amplificador na menor impedância possível é uma prática comum em todo o mundo?

Não! Apesar de muito difundida no Brasil, quase não é praticada fora daqui. No resto do mundo o mais comum é usar sempre em uma impedância um pouco maior que a mínima... por ex: usar um sistema à 4Ω, ao invés do nosso "famoso 2Ω”.

 

2- Por que? Qual a razão?

Sistemas trabalhando em impedâncias mais altas proporcionarão uma qualidade sonora melhor – e aqui é importante frisar – isso é verdadeiro qualquer que seja o amplificador usado! Basta verificar que o fator de amortecimento, tão importante em graves, à 8Ω sempre será o dobro do que à 4Ω, e assim por diante... E isto nem dependerá do amplificador, da marca ou modelo deste – é uma realidade física inevitável.

Além disso, verifique as especificações técnicas de qualquer amplificador (qualquer marca e tipo) e verá que a distorção à 8Ω é sempre melhor do que à 4Ω, e melhor do que a 2Ω ... etc, etc...

 

3- Mas qual é o fator mais importante? O que realmente desaconselha essa prática?

A impedância da caixa acústica não possui um valor fixo - esse é o fator mais importante pelo qual essa prática é evitada nos mercados mais "cuidadosos". Qualquer amplificador, quando solicitado ao máximo volume com uma impedância abaixo da sua mínima nominal irá recorrer às suas proteções internas para evitar o pior. O importante é perceber que isso será sempre inevitável, pois, como todos sabemos, quanto menor a impedância, mais corrente (e potência) será solicitada do amplificador – e isso também não depende de marca/modelo. De modo geral, os bons amplificadores são projetados com uma certa margem de segurança sobre a sua impedância mínima. Os amplificadores Next Pro, por ex., são todos projetados para suportarem, sem ativar proteções, uma impedância 15% menor que a mínima nominal – ou seja: os amps de  suportam, numa boa, cargas de até 1,7Ω, sem ativar proteções... Os amps de suportam até 3,4Ω e assim por diante...

 

4- Essa margem de segurança então basta para que eu use na impedância mínima "a todo volume" sem correr nenhum risco?

Sem analisar individualmente as caixas acústicas não há como garantir! Esse é o principal motivo pelo qual usar a impedância mínima é evitado fora do Brasil. Se no final das contas a associação de falantes ligado a um mesmo canal estiver abaixo da impedância mínima nominal suportada pelo amplificador (incluindo aí a margem de segurança) ele irá se proteger! É inevitável!

 

5- Mas a impedância de uma caixa acústica não é um valor fixo e previsível, como 8Ω?

Não, está muito longe de ser assim!

 

6- E por que?

Porque a impedância não é um valor único! A impedância é uma curva, em relação a frequência.

O mais importante é entender isto: um alto-falante marcado como tendo uma impedância nominal de 8Ω, tem, na verdade, uma curva de impedância com respeito a frequência. Ou seja, para cada frequência ele terá um valor de impedância diferente. Veja essa figura:

 

Esta é a curva de impedância (azul) e fase (preto pontilhado) de um alto-falante comercial de 18” e 8Ω ao ar livre (gráfico colado da folha de dados do fabricante, c/ marcações em vermelho do autor). Olhe com atenção... veja a curva azul (a impedância). Repare que ela varia bastante com a frequência, começando com um valor bem próximo de 8Ω à 20Hz e rapidamente subindo e atingindo cerca de 140Ω à 37Hz, para logo novamente diminuir, atingindo o mínimo de 7,2Ω ao redor de 112Hz, o que é confirmado pelas especificações técnicas. Para frequências acima de 112Hz, a impedância novamente sobe.

Por convenção, a impedância nominal de um alto-falante seria o valor ao redor da segunda frequência de ressonância, que neste falante ocorreu em 112Hz. Ou seja, este falante (de marca conceituada) deveria vir marcado “7,2Ω” e não 8Ω ... porém essa é uma realidade do mercado.

Portanto, mesmo ainda fora da caixa acústica, este falante já mostra, em pelo menos um ponto, uma impedância mais baixa que a nominal declarada. Ora, se a intenção for usar 4 destes falantes em paralelo com um amp de 2Ω, teríamos que olhar com cuidado para essa região ao redor de 112Hz (que resultaria 1,8Ω)... mas as coisas podem ficar ainda piores quando este falante for colocado em uma caixa acústica (nesse gráfico o falante está ao “ar livre”, sem nenhuma caixa acústica).

Agora vejamos o que acontece quando colocamos um woofer comercial de 12" / 8Ω em uma caixa do tipo bass-reflex (caixa c/ falante frontal e duto). Primeiro vejamos a curva de impedância deste falante ao ar livre (não é o mesmo falante do ex. anterior):

 

Woofer "n.2" ao ar livre: |Z|min = 6,5Ω @ 216Hz

 

Vemos que a sua impedância atinge um mínimo de 6,5Ω em 216Hz. Agora fazendo a mesma medição com este falante devidamente montado na caixa acústica citada, temos:

 

Woofer "n.2" em caixa bass-reflex: |Z|min_1 = 9,2Ω @ 47Hz|Z|min_2 = 6,5Ω @ 162Hz

 

A primeira coisa que observamos é que, ao ar livre havia somente um valor mínimo na impedância (em 216Hz), mas com o falante dentro da caixa aparecem dois valores mínimos (em 47Hz e 162Hz)! Além disso, a frequência do mínimo original mudou. E se a caixa fosse uma band-pass ou uma corneta as coisas seriam ainda mais complicadas!

Se 4 destas caixas fossem associadas em paralelo, supostamente teríamos 2Ω... mas na verdade teríamos, na região de 160Hz, 1,6Ω ! É lógico que se utilizadas com um amp de 2Ω/canal, quando houverem passagens fortes na região de 160Hz esse amp irá se proteger de alguma forma. Poderá desarmar, provocar distorção, etc.

Uma possível solução neste caso particular: por sorte, a "região-problema" está fora da faixa normalmente utilizada em graves. A simples escolha de um crossover (o corte passa-baixa) digamos, em 120Hz, já seria suficiente para evitar que se atingisse a região-problema.

Mas infelizmente nem sempre temos essa sorte... e se esta caixa fosse utilizada em médio-graves? Ou se fosse utilizada com crossover passivo, em full-range? Não haveria escolha: ou tentamos outro modelo de alto-falante, ou usamos apenas duas ou três destas caixas em paralelo, ao invés de quatro. Fora isso vai ter problema!

 

7- Crossovers passivos podem afetar esse cenário?

Sim, podem.

Considerem agora um terceiro woofer de 12" / 8Ω e um driver de titânio de 2" / 8 Ω. As suas curvas de impedâncias ao ar livre são (medidos separadamente: woofer em verde e driver em magenta):

 

Woofer & driver separados: |Z|min_woofer_verde = 6,4Ω@ 200Hz|Z|min_driver_magenta = 7Ω@ 3kHz

 

Agora, acoplando este falante e este driver a um crossover passivo de 2 vias, 12dB/oitava e corte de 1,2kHz, e tirando a curva de impedância do conjunto, temos:

 

Woofer & driver c/ crossover passivo: |Z|min_1 = 6,6Ω @ 158Hz|Z|min_2 = 8.2Ω @ 23kHz

 

Como vemos o crossover passivo afetou bastante os mínimos da impedância, mas nesse caso essas mudanças acabaram por ajudar! A mínima do woofer que era 6,4Ω subiu para 6,6Ω. Já a mínima do driver passou de 7Ω para 8,2Ω, ainda que as frequencias onde esses mínimos ocorriam tenham mudado bastante. Nesse caso foi utilizado um crossover passivo do tipo "simples", ou seja, com apenas o corte e sem nenhum tipo de equalização ou "correção" de resposta. Sempre dê preferência para esse tipo de crossover passsivo! Pois são os que menos afetam a curva de impedância natural dos falantes.

Novamente uma associação de quatro destas caixas em paralelo nos deixariam com uma impedância mínima de 6,6Ω/4 = 1,65Ω, um valor bastante abaixo dos 2Ω regulamentares, mesmo levando em conta uma margem de segurança razoável. A solução aqui seria usar, no máximo, três destas caixas em paralelo, resultando em uma impedância mínima de 2,2Ω.

CONCLUSÕES

Para se utilizar os amps nas suas impedâncias mínimas respectivas (como 2Ω por ex.) é imprescindível que se conheça de antemão as curvas de impedância das caixas utilizadas, sob risco de se exceder a capacidade do amplificador e o mesmo ativar alguma proteção - gerando interrupções ou distorções no áudio. Na dúvida, ou na impossibilidade de se realizar essa análise, use sempre uma impedância mais alta.

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Marcelo Barros é físico com mestrado em conversão de potência. Recebeu seus B.Sci e M.Sci pela Universidade Federal de São Carlos, importante centro de pesquisas no interior de São Paulo, onde foi aluno de importantes cientistas brasileiros, como o Prof. G.E. Marques, que deu importantes contribuições no desenvolvimento dos transistores MOSFET, além de ter sido orientado pelo Prof. Araújo-Moreira, o inventor do grafite magnético. Barros pode ser considerado um veterano, pois atua na indústria desde 1992. Desenvolveu trabalhos em quase todas as áreas do áudio, assinando o projeto de alguns produtos, hoje considerados marcos da indústria, como o primeiro pré-amplificador de microfone valvular nacional tido ao mesmo nível dos clássicos. A partir de 2005 especializou-se em amplificadores e fontes chaveadas, publicando vários artigos, além de liderar o projeto do primeiro amplificador digital profissional produzido em série no Brasil. Foi o Coordenador do Grupo de Trabalho de Amplificadores da Comissão de Estudo CB003/CE003-100-001 da ABNT, que elaborou a Norma Brasileira de Amplificadores e é atualmente o CEO de tecnologia da Next Pro. : Canal do YouTube